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Decor XIV

por sapoprincipe, em 19.03.14

O andar térreo contava com um vestíbulo de piso de cerâmica, uma sala espaçosa com lareira, uma cozinha cuja porta dos fundos dava para a horta de tomates e abóboras, uma despensa com estantes caiadas e um dormitório no qual se sentia o perfume das especiarias, legumes e hortaliças. No vestíbulo de piso de cerâmica se encontrava a escada, roída pelo caruncho e a tristeza das teias de aranha, que levava ao primeiro andar e ao sótão.

...

O primeiro andar contava com quatro dormitórios e um banheiro, distribuídos em um corredor com sacadas que davam para o jardim e por onde a luz invadia a casa por entre os ramos das madressilvas. Em um canto do dormitório maior, esquecido sobre uma estrutura de ferro, um jarro de louça com arabescos azuis. Os outros cômodos estavam vazios e se podia escutar o eco da respiração.

Em uma extremidade do corredor, a escada se estreitava na subida ao sótão. Os degraus se mostravam frágeis e rangiam conforme Clara avançava. No fim da escada, a luz inundava o lugar entrando por uma pequena janela em forma de lua cheia por onde se podia ver a solidão do mundo. Havia várias com cobertas por lençóis que cheiravam à lavanda apodrecida, uma cômoda de estilo francês em ruínas e, apoiada nela, uma espingarda de caça cuspindo pólvora.

[pág. 35]

 

A primeira coisa que adquiriu foi quatro candelabros de velas grossas para cada um dos cantos da sala. ...

 

Na cidade, completou o mobiliário da sala com sofás de cetim escarlate, quadros de odaliscas envolvidas em tule lilás, um tapete que mostrava uma caça à raposa e cortinas verdes de seda adamascada. A loja onde comprou esses objetos vendia móveis, artigos de decoração e adereços utilizados em representações de ópera, que já não interessavam aos teatros por estarem velhos ou fora de moda.

[pág. 36]

...

 

Quando já gastara todo o orçamento, Clara se enamorou pela cama onde Otelo matara Desdêmona. Tinha travessas de ferro negro cobertas por um dossel púrpura e era de tamanho colossal, não exatamente o ideal para ser montada e desmontada nos teatros. Por isso só fora usada em algumas representações. Tanto insistiu em levá-la custasse o que fosse, que o barítono a trocou por seus favores camponeses. Sobre um baú do armazém, aturdida por uma ária de Rigoletto, Clara Laguna conheceu seu segundo cliente.

[pág. 37]

 

A casa dos amores impossíveis

Cristina López Barrio

 

Tradução – Fal Azevedo

 

publicado às 21:10

Arq-tipografia

por sapoprincipe, em 12.03.14

 

by Cláudio Luiz

 

Rua Marquês de São Vicente - Gávea - Rio de Janeiro / RJ

 

Se me disserem que é a letra do arquiteto que fez o projeto, não duvido.

publicado às 14:14


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