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Casa - fechando a porta

por sapoprincipe, em 27.07.15

O fascínio moderno por móveis inicia-se no século XVII.

Começaram a preencher o vazio medieval com cadeiras, cômodas e camas com dossel, mas de modo praticamente impensado. Estes quartos lotados não eram propriamente decorados.

Em França a nobreza e a alta burguesia viviam em casas individuais grandes - chamadas de "Hotels".  Não havia corredores nestas casas - cada quarto era diretamente ligado ao próximo - e os arquitetos se orgulhavam de alinhar todas as portas "enfilade", de modo que houvesse uma visão ininterrupta de um lado ao outro. É evidente que se priorizavam as aparências, ao invés da privacidade; todos, desde os empregados até os visitantes, passavam por cada um dos cômodos para chegar ao seguinte.

O palácio de Versalhes de Luís XIV também havia sido uma "casa grande", a maior da França. Ele era um lugar público, com poucas restrições aos lugares onde os cortesãos poderiam ir, e, consequentemente, oferecia pouca privacidade. Isto começou a mudar.

As duas grandes descobertas da Era Burguesa - a privacidade e a domesticidade - surgidas, naturalmente, nos Países Baixos, até o séc XVIII já haviam se espalhado pelo resto da Europa setentrional - Inglaterra, França e os estados alemães.

A primeira coisa que Luís XV fez quando se mudou para Versalhes foi reformar seus aposentos particulares. O enorme quarto pomposo ficou como era - para as formalidades e agora o rei dormia em outro lugar, isolado. O rei, antes uma figura pública, sentindo necessidade de privacidade é um exemplo do nível de influência que os valores burgueses exerciam e quão tão longe iam as mudanças de hábitos. Mme. de Pompadour, amante de Luís XV durante pouco tempo e depois sua conselheira e confidente durante quase 20 anos, foi grande incentivadora do interesse de Luís XV pela arquitetura doméstica.

A casa estava se tornando um lar e, após a privacidade e a domesticidade, o palco estava armado para a terceira descoberta: a noção de conforto. Os móveis forçam a civilização que se senta no alto a, mais cedo ou mais tarde, levar em consideração essa questão.

Logicamente que o estilo de vida hedonista das milhares de pessoas vivendo por prazer e se divertindo muitíssimo em Versalhes contribuiu para que os móveis confortáveis surgissem ali em primeiro lugar.

O maior problema para projetar os móveis não era somente técnico - o de como fazer a cadeira - mas também cultural - o de como ela era usada. [será usada. Fazendo um projeto tenho sempre que levar em conta a rotina de vida dos clientes. E, não raro, me vejo explicando como se dará o uso do novo projeto e como isto irá alterar algumas dinâmicas]

Mesas e cadeiras, ao contrário, por exemplo, das geladeiras e das máquinas de lavar, são um refinamento, e não utilitários.

A cadeira adquiriu um papel diferente na França de Luís XIV, época de prodigiosas conquistas militares, políticas, literárias e arquitetônicas. Também nesta época, os móveis foram elevados ao nível das belas-artes. Eles começaram a ser vistos como parte integrante da decoração de interiores, e a disposição improvisada dos móveis no passado cedeu espaço para uma decoração rigidamente arrumada. Ilustrações do palácio real de Versalhes mostraram uma mesa entre cada conjunto de janelas, uma cômoda de cada lado da porta, um banco na base da pilastra. Como a função dos móveis era realçar a arquitetura do cômodo, e não acomodar pessoas, as cadeiras eram projetadas para serem admiradas, e não, por incrível que pareça, para as pessoas se sentarem.

Já no século XVIII a variedade de tipos de móveis - na França - refletia a especialização que estava ocorrendo na divisão da casa; diferentes cômodos estavam adquirindo diferentes funções [ anteriormente os espaço não tinham função definida. Por exemplo, não existia uma sala de jantar, a mesa era armada e desarmada para ser locada no espaço em que queriam comer].

Nesta época surge na França o estilo que ficou conhecido como rococó - trocadilho com barroco e roc derivado de rocaille - como todos nomes da história da arte, ele foi criado após o fato, em torno de 1836. O termo não era elogioso; foi criado por críticos que desaprovavam o estilo. Mas o rococó é de suma importância.

O rococó foi o primeiro estilo desenvolvido exclusivamente para o interior, em oposição ao exterior. Isto realça que a parte interna das casas estava sendo entendida como muito diferente da parte externa, e também que ocorria uma importante distinção entre a decoração de interiores e a arquitetura.

Foi só no rococó que arquitetos como Blondel puderam se especializar em "decoração de interiores". [surgia aí uma das minhas profissões]

No futuro, o rococó seria substituído por outros estilos, mas permaneceria a convicção de que a parte interna as construções deveria ser considerada independente da parte externa.

Começou-se a ter diferentes móveis para cômodos diferentes e formalidades diferentes.

Havia diversos modelos de chaises longues e espreguiçadeiras, marquesa e duchesse para usos feminino.

Até a onipresente cadeira de braço estofada deve a sua forma a moda feminina: os braços recuados acomodavam as amplas saias e os encostos baixos davam espaço para seus penteados extravagantes.

O refinamento delicado do rococó francês foi frequentemente considerado feminino. E era, e não só no sentido metafórico. Se os interiores e a decoração das casas refletiam uma sensibilidade diferente, não foi só porque Luís XV - e portanto a sua corte - era dominado pela Mme de Pompadour, mas porque toda a vida social durante o ancien regime foi dominado pelas mulheres.

As cadeiras medievais, que tinham assentos retos de madeira, quase nunca eram estofadas. Mais tarde diversos materiais - couro, palhinha de junco, ratã - foram usados para fazer cadeiras. Inevitavelmente, tentava-se prender as almofadas à cadeira para evitar que elas escorregassem, o que originou os assentos estofados do final do século XVII. Este desenvolvimento atingiu o seu apogeu nos móveis do rococó francês quando estofaram os assentos, os encostos e até os braços.

Hoje em dia, admiramos [ou criticamos] seus aspectos decorativo [e excessos], mas a sua maior realização foi a ergonomia, pois estas belas cadeiras do rococó eram, acima de tudo, extremamente confortáveis [Cris Reis, lembrei-me de você, é claro].

Apesar trabalho de design de interiores ter surgido lá no século XVII / XVIII o profissional da área ainda é visto com um misto de desconfiança e prescindível. Além de ser basicamente contratado pela elite. O que é uma pena. Conforto, ergonomia, aconchego, identidade deveria ser básico. Mas ainda não conseguimos resolver nossa questão mais básica de teto/moradia [mais pela falta de uma política que não pense só no lucros de alguns] que ainda falta muito para chegarmos lá.

Fechando a porta de Casa, todavia a discussão continua.

 

Adendo - já que falamos de Holanda e França, um pulinho na Inglaterra - para não passar em white.

Enquanto na França o destaque fica pela vida palaciana e a preferência pelas grandes casas e na Holanda o desenvolvimento das casas menores e com privacidade ter sido mais rápido, na Inglaterra a preferência pela casa de campo teve repercussões na arquitetura.

Quase ninguém que tinha uma posição de liderança nos círculos da sociedade morava em Londres.

A planta e a disposição das casas urbanas inglesas, que geralmente eram enfileiradas (diferente do hotel parisiense, que era de centro de terreno) haviam sido padronizadas no final do século XVII, e pouco mudaram nos 150 anos seguintes. As casas de campo, por outro lado, eram bastante variadas, e foi aos seus projetos que os seus donos e arquitetos dedicaram a maior atenção.

Detalhes de etiqueta - a educação que cada vez perdemos mais.

Como não tinham celulares e zapzap, vizinhos de porta trocavam recados por escrito - que eram entregues por um criado - para evitar uma visita desavisada. Era falta de educação (ainda deveria ser) entrar sem ser convidado. Quando se planejava uma visita, era necessário deixar o seu "cartão de visitas" e esperar uma resposta.

Enquanto espero por respostas e pela entrega de alguns cartões, vou no aconchego da minha casa me recostar em meu sofá estofado, e pegar meu kindle para ler Orgulho e Preconceito de Jane Austen - a leitura ficará bem mais clara agora, of coursemente - e me entreter com as investidas de Mr Darc.

Texto tirado de
Casa - Pequena história de uma ideia
Witold Rybczynski


A Drops Corporation todo o meu reconhecimento e agradecimentos.

publicado às 20:01

vida selvagem II

por sapoprincipe, em 14.07.15

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150713_vidaselva04.jpgbarriguda.

 

 

não me lembro mais o nome do autor :c(

chamavam estas belas esculturas de artesanato.

Tags:

publicado às 14:14

vida selvagem

por sapoprincipe, em 13.07.15

guara01.jpgguara01.jpg

guara03.jpgguara03.jpg

guara05.jpgguara05.jpg

  

brincos by Guaraciaba Galdino

 

Relíquias que eu usava como broche sobre uma t'shirt branca. Sucesso sempre ;c)

publicado às 19:19

aprendizado

por sapoprincipe, em 08.07.15

i_ching.jpg

"Quando se insiste em espreitar a caça onde ela não existe, nunca se encontrará nada, por mais que sespere.

Numa busca, a insitência não é suficiente."

publicado às 21:12


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