
De: Ex-imigrante
Para: Portugueses
Se eu não tivesse voltado há 5 meses, hoje faria 8 anos da minha chegada ao Porto.
O tempo passa rápido, deixa marca e saudades.
Foi bom andar de autocarro, pegar a camioneta, ir de comboio.
Usar telemóvel e ouvir um com licença na hora de desligarem.
Ver o pôr-do-sol na foz, tomar um sumo no bar da praia do Ourigo, ir a Boavista, assistir filmes nos cinemas (20!!! Vinte!!!) do arrábida, ou os filmes alternativos (franceses, asiáticos...) no Naum, os espetáculos no Coliseu (assisti mais shows de artistas brasileiros lá do que aqui), os balés fantásticos que vi no Rivoli, beber um copo na Ribeira.
Ouvir Paixão do Rui Veloso (não se ama alguém que não ouve a mesma
canção), cantar com Solta-se o Beijo (Ala dos Namorados), ver a saudade brotar com Postal dos Correios, adorar Os Clãs (não é, Paulinha?), a voz rouca do Abrunhosa, Dunas (GNR), o jazz de Maria João e Laginha, rir com a Adiafa, admirar Simone de Oliveira (a poesia de Ary dos Santos é excelente) e fazer silêncio para ouvir o fado (confesso, não gosto muito, mas Cheira a Lisboa é ótimo).
Ler o JN e o Público, assistir pouca tv para não ficar vendo novelas brasileiras (mas era bom ver Catarina Furtado na Operação Triunfo).
Jantar com um bom maduro tinto, comer arroz de pato, e natas do céu como sobremesa (o primeiro doce português que comi).
Assistir aos fogos em frente à Câmara do Porto (edifício lindo), os martelinhos no São João, a eterna disputa entre tripeiros e alfacinhas (e eu gostava muito de Lisboa, também).
Ter ido sem conhecer ninguém (a não ser o português que estava me contratando) e saber que fiz amigos é muito bom. Tantos brasileiros (paulista, gaúcho, capixaba, mato-grossense, pernambucano...) e bons portugueses e portuguesas (do garoto da bicicleta à doce Gena).
Achar graça da admiração que eles têm pelo nosso sotaque (bastava eu dizer boa noite e vinha logo um: És brasileiro?). Lamentar a minha incompetência de usar a segunda pessoa, também, quem manda eles terem o você como tratamento formal?
As brigas com o idioma.
A burocracia do seviços de estrangeiros.
Odiava o brasuca (portuga, também, eu não acho nem um pouco simpático) e, principalmente, quando queriam que eu comparasse Portugal e Brasil.
Odiava, também, os intermináveis dias nublados de inverno. E agora que eu começava a me acostumar (não gostar, sff), a saudade falou mais alto e o incêndio, que fez desmoronar a empresa e meu trabalho, aceleraram a volta.
Afinal, aí não tem pastel de queijo e caldo de cana. Eu tinha que voltar.
Mas posso dizer que "GOSTEI IMENSO" (ainda verei os cariocas usarem
esta expressão).
Abraços brasileiros,
Imigrante
NB Tá, eu não falei de Lisboa, a lista de músicos falta nomes, não comentei da noite, não falei no Café da Praça, da rua de Santa Catarina...são muitas coisas. Vai ter que ficar para uma próxima.