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Minha amiga Fernanda não pode ver foto de espaços com muitas peças e elementos que logo pergunta: quem vai limpar isso?
Muito simples. Não há de se ter dúvidas. Em mansões e casas enormes que saem em revistas de decoração a empregada (o), claro. Em apartamentos mais modestos, tem o interesse do próprio morador pelas peças. E quem gosta, muitas vezes nem admite que outro limpe (Oi, Denise).
Contudo, quando estou fazendo algum projeto, para esse público classe média - média, não deixo de lembrar que é melhor evitar os pisos brancos - principalmente nas cozinhas e banheiros - por mais que na foto da revista esteja maravilhoso - quem vai limpar isso?
Hoje, passei em frente a uma escola aqui perto de casa e reparei nas obras. Que fique claro - a obra não é minha.
Como de praxe, estão aproveitando as férias escolares para fazer manutenção. E uma das obras foi retirar a chapa fixada atrás da grade e pintá-la de branco (já tinha ficado mais leve). Mas, teve um acréscimo. Colocaram um painel de vidro atrás da grade.
Que o painel de vidro tornou a vista da escola melhor do que a chapa, sem sombra de dúvida. Agora, se pode ver o jardim e o prédio - um casarão antigo - e os alunos que estiverem no jardim poderão ver o movimento da rua. Inclusive quando papai, mamãe ou o motorista chegar pra buscá-los, melhorando o transtorno que é o horário de saída, assim espero.
Como colocaram o painel de vidro bem junto à grade, não pude deixar de incorporar a Fernanda e perguntar: quem é que vai limpar isso? rs
NB - o reflexo no vidro meio que estraga a vista do casarão.
Lendo um texto do TAB - Por um design unissex - que a Monix compartilhou, me dei conta de como essa discussão já passou pelos meus projetos. Tempo.
Em 2005, quando voltei pro Brasil, fui indicado para fazer um projeto numa escola Técnica em Santíssimo. Como era um projeto grande, chamei o arq. Maurício Campbell para fazê-lo comigo.
Uma das questões eram os banheiros. O banheiro feminino ficava dentro do vestiário e o banheiro masculino tinha entrada pelo outro lado. Completamente separados (embora as paredes dos fundos se comunicassem). Como era um prédio antigo, que tinha sofrido várias obras ao longo do tempo, não era um projeto de fácil solução. Mas, juntando todas as áreas e deslocando o vestiário para a quadra (outra parte do projeto), conseguimos criar uma nova sala - que faria o corredor ser todo com portas de entradas de salas e, no corredor lateral, a entrada dos banheiros. Aproveitando a estrutura existente - pintamos pilar e viga de amarelo, criando um pórtico que demarcava, no corredor, a entrada dos banheiros que tinha, na área de entrada, os lavatórios (comum aos dois banheiros) e, de cada lado, os banheiros feminino e masculino. Os banheiros foram calculados ao milímetro para evitar cortes e desperdícios de cerâmica. Então, tantas cerâmicas + espaçamentos determinavam a largura dos reservados e a altura alinhava com a divisória de granito e arrematando - cerâmica e divisória - uma faixa de azulejo 10x10 amarelo. Como a escola tinha uma barra cinza pintada em todos os corredores, mantivemos o cinza na cerâmica e escolhemos o amarelo para os detalhes (barra e forração das portas), além de fugir do padrão rosa meninas/azul meninos. Os banheiros ficam assim exatamente iguais (ou quase, visto que o dos meninos, além dos reservados, tinha o mictório. E no das meninas tinha mais um número de boxes).
Discussão importante. Já não me lembro o porquê de um comentário, visto que banheiro comum não era uma discussão na época. Logicamente, adiantei que não iria propor, por ser um avanço muito grande. Mas... a proposta tinha os lavatórios em comum e não tinha porta no acesso – o que facilitaria a circulação. “Oh, mas os meninos irão entrar no banheiro das meninas..." Contra-argumento, a porta não seria exatamente um impeditivo caso houvesse interesse em... e, segundo, como aqui é uma escola, cabe a vocês ensinarem que eles tenham respeito pelas garotas e pelo espaço do outro.
Outra questão era a manutenção dos banheiros. Inclusive pelo mau uso dos alunos. Nossa proposta foi a que, no início das aulas, fizessem uma reunião com todos os alunos, apresentassem a reforma dos banheiros - que foi feita pra eles, com o dinheiro deles (a mensalidade cobre o funcionamento, reformas e manutenção) - e quanto melhor eles cuidassem, mais tempo teriam um bom banheiro pra usarem.
Fiquei bastante feliz quando eles compraram as ideias.
O projeto ficou bem legal e foi aprovado também pelos alunos.
Quando voltei lá, tempos depois, para ver outro projeto, soube que, 3 meses depois do início das aulas, um aluno escreveu na parede do banheiro, mas foi facilmente identificado. Chamaram os pais, resolveram a questão da pintura e não voltou a acontecer. Final de 2010, voltei à escola para discutir um outro projeto e o banheiro continua lá, "inteiro". Tinha uns amassadinhos no mictório, mas acho que eram mais do bater das vassouras do pessoal da limpeza do que propriamente dos alunos.
Um bom projeto também pode influenciar no comportamento. ;c)
Banheiros / Escola
Uma amiga (oi, Dedeia), quando comentei do lançamento do livro, me sugeriu que eu fizesse um post na outra semana e aproveitasse para sugerir que seria um ótimo presente de aniversário. Perdi o timing. #masficaadica
No final de março, foi lançado no Rio o livro "Letreiros", de Mari Stockler e Marcus Wagner que dizem: "São 162 fotos novas e antigas, de letreiros emblemáticos que ainda existem ou que já foram retirados, mas que contam a história visual das ruas da cidade. Como esquecer o letreiro da boate Help, em Copacabana, com aquelas perninhas dançando em néon? Ou da Chaika, em Ipanema? Das Perucas Lady, em Copacabana? O traço Art Déco do letreiro do Bar Paladino, no Centro?"
Uma outra maneira de encarar a "arq-tipografia".
Se eu tivesse um bom padrinho, poderia também lançar um livro.
Fernadinha e Fernanda com os seus exemplares.
By Roberto Filho
Bob's - Foto do livro.
Porque morei em frente ao primeiro Bob's do Rio
e fui feliz lá naquele apartamento (Oi, Márcia)
Ou, se tivesse disposição para academia (até teria, na realidade, o ponto é outro) poderia também seguir os passos de D’Elboux e fazer uma mapa do Rio. Já teria meio caminho andando. Embora, provavelmente, expandisse para além do Déco.
Diz ele: " As referências tipográficas encontradas no espaço público de São Paulo revelam parte da história da cidade" (ele poderia ser menos modesto e ampliar este leque aí. Revelam de muitas cidades.)
"O piso de mosaico estilo Art Nouveau com o monograma da família Álvares Penteado, na Vila Penteado; as letras Art Déco na entrada do Estádio do Pacaembu; as inscrições caligráficas encontradas no cemitério São Paulo; e a moderna Biblioteca de São Paulo, com suas enormes letras que lembram antigos tipos metálicos para impressão, são alguns dos exemplos de como a tipografia se encontra entrelaçada à arquitetura na cidade." Daqui.
Déco SP - by D'Elboux
Já para o Rio, de uma forma bem mais restrita - meu foco são prédios residenciais -, vou fazer uma seleção da seleção do "Arq_Tipografia" e republicar aqui a série de forma mais seguidinha (tentarei postar uma a cada semana), para que possam ter uma pequena visão de forma mais fácil.
Aproveitando a data de comemoração do dia do arquiteto.
"Pensar a paisagem nos ajuda a compreender o mundo.
Para que haja paisagem é preciso que haja um sujeito observador que a constrói e inventa.
Nós somos a paisagem."
Trabalho de tese da Arq. Lúcia Maria de Siqueira Cavalcanti Vera
Paisagem-Postal: A imagem e a palavra na compreensão de um Recife urbano.
"Parece simples falar de paisagem e parece óbvio que a paisagem deveria ser considerada quando se pensa em planejar as cidades, mas...
os planejadores têm dificuldades de trabalhar com a imaterialidade nos seus projetos.
Paisagens postais são aquelas que identificam cidades como assinaturas urbanas. Esta identificação não está expressa na paisagem em si, mas na relação de apreensão entre o sujeito que a observa e a transforma e a paisagem que se deixa observar e transformar."
Urbanismo não é minha praia, mas trabalhos como este até me fazem pensar em.
Embora diferente do Recife onde a intervenção era na frente dos prédios históricos, acho bastante similar ao que será feito no "porto maravilha" aqui no Rio. Vista do mar a primeira visão ainda será os armazéns do porto. Mas para quem irá transitar pela cidade, com os inúmeros edifícios que se pretende construir - e alguns com uma arquitetura espelhada de gosto duvidoso - o impacto - por conta do gabarito que foi liberado- já não será as curvas dos morros ou a nossa exuberante paisagem - que é fator determinante para o título de maravilhosa que detém a cidade. Apesar do turismo não ser tão bem explorado, boa parte do que ocorre é por conta da paisagem. Sendo ela maculada pelos prédios (ainda mais do que já é), não sei se teremos ganhos. Até pela comparação do que se pretende construir aqui e o que está pronto lá, acho que se alguém estiver interessado em ver prédios irá para Dubai.
Acho lamentável não termos tido um #ocupaporto, pois consertar o estrago será complicado e caro. Lógico que com a abertura da reformada Praça Mauá esse impacto não está sendo sentido. Mas aquilo é só uma cereja do bolo que não será saboroso.
E cada vez mais vamos perdendo a cidade.
"Se você abrir uma pessoa, irá encontrar paisagens" Agnès Varda
Os arquitetos que se dedicam a projetos de interiores sempre foram vistos de ladinho, de um modo geral, pelos colegas que adoram se intitular arquitetos / urbanistas.
Com a criação do conselho, e a hipótese de perder um nicho do mercado, interiores está na lista de atividades do profissional de arquitetura. O pessoal do design – que ainda nem sequer tem sua profissão reconhecida – grita com razão.
A discussão do que é mais importante – arquitetura, urbanismo, interiores – é grande, com cada profissional relacionado com uma área tentando se valorizar.
Sempre me pergunto, por acreditar que o ponto principal é habitar - do que adianta uma cidade bem planejada, com boa mobilidade, onde as construções são horrendas? Do que adianta uma casa com excelente projeto arquitetônico, completamente vazia, não permitindo seu uso como moradia?
Então, urbanismo, arquitetura, interiores estão intrinsecamente ligados, pra mim. Como o todo humano.
“O planejamento urbano não diz respeito apenas a coisas práticas, ele também reflete as ambições e desejos humanos. Foi isso que levou Luís XIV a transformar Paris de uma cidade medieval em uma cidade moderna. A mesma intenção, embora em menor escala, leva-nos a redecorar a cozinha ou a mudar os móveis de lugar na sala de visitas ou a pintar a sala de estar da família.” (Rybczynski, Witold)
Tudo está tão ligado, que o livro sobre urbanismo em vez de me fazer lembrar de meus amigos arquitetos, remete-me para a brilhante Camila Pavanelli, que entre uma linha e outra de sua tese, gosta de ouvir jazz.
“... Se o planejamento de Paris pode ser comparado ao afinamento da música sinfônica, as cidades da Nova Inglaterra podem ser comparadas ao jazz. Claro que um jazz bem-comportado – digamos que do pianista Bill Evans e não de Fats Waller. Mas, como o jazz, ele envolve improviso e, como no jazz, isso não significa que o resultado seja acidental e que não existam regras.” (Ibidem)
Nem imagino se ela gosta dos músicos citados, foi apenas pela relação com o estilo musical mesmo.
Vou ali pensar que estilo musical combina com a minha casa ou o meu projeto do momento ;c)