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singular

por sapoprincipe, em 21.06.18

Roxo é a cor dos sentimentos ambivalentes. No violeta todos os opostos se fundem.
Em nenhuma outra cor se unem qualidades tão opostas como no violeta: é a união da cor magenta e da cor azul, sentimento e intelecto, amor e abstinência,  sensualidade e espiritualidade, força e delicadeza. Todas as cores mistas são percebidas como ambíguas, não objetivas, incertas. O violeta ainda mais.
A união dos opostos é o que determina a simbologia da cor violeta.

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Roxo, violeta, púrpura (na Alemanha púrpura é vermelho), ameixa, malva, berinjela, íris podem ser algumas de suas denominações. Quando mais clara, por mistura com o branco, pode ser lilás, lavanda, ametista.
[fundo musical - João Bosco/Capinan
É tornar a nascer
Violeta e azul
Outro ser
Luz do querer...
Não vai desbotar
Lilás, cor do mar
Seda, cor de batom
Arco-íris crepom...]

Antes de cair a noite, o violeta é a última cor que antecede a escuridão total.
O roxo é a cor mais escura - oposição ao amarelo que é a mais luminosa.
O violeta é a cor que fica entre a vida e a morte.
O violeta é a cor mais íntima do arco-íris, ele se transmite ao invisível ultravioleta.
Assim, o violeta marca a fronteira do visível com o invisível.
Como complementar ao amarelo, que é a cor do entendimento, o violeta é a cor da fé – e a cor da magia.

Isso faz com que a cor, da mesma forma, tenha ligação com a superstição.
"O que veste um feiticeiro? 'Uma túnica violeta!', diz a maioria de forma espontânea.
As bruxas malvadas se vestem de roxo, as fadas bondosas se vestem de lilás."
[Beth S. e Raquel S., vocês se vestem com que cor? eheheh Maldade minha.]

"O violeta simboliza o lado sinistro da fantasia, a busca anímica, tornar possível o impossível."
Na simbologia indiana, o violeta é a cor da metempsicose, a transmigração das almas. Na psicologia moderna é a cor dos alucinógenos, que devem abrir a consciência a estímulos irreais.
Nos chakras, é o ponto mais alto - no alto da cabeça, o cérebro. Ligação com o divino.

" As antocianinas, substancias naturais que conferem a cor roxa, azul e vermelha a alguns alimentos, podem se tornar uma alternativa para o tratamento de tumores, revela estudo publicado no Scientific Reports."
As cores podem nos curar? Precisamos de mais estudos, com certeza. Mas que as cores nos influenciam, sem sombra de dúvida.

"Todos os nomes de mulher derivados do violeta são nomes de flores. ‘Iolanda’ é a violeta grega. Da urze violeta resultou o nome, antigamente muito popular, ‘Erika’; mais extravagantes são ‘Hortênsia’, da flor rosa-lilás hortênsia, e ‘Malvina’, da malva. ‘Violet’ e ‘violette’ são, igualmente, tanto as flores quanto as cores em inglês, em francês, como em português.
Embora o violeta seja uma cor eclesiástica, não existem nomes masculinos dessa cor."
[Máx, não tive como não lembrar da escolha da Erica para a cor do quarto.
Cristina Capella, teve "algum roxo" na escolha do nome da Iolanda?]

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Violetas

Também a designação da cor “lilás” (que é o roxo com branco) é permitida como nome de mulher, ela veio da flor francesa “lilás”, em inglês “lilac”, e vou incluir aqui Lila - do espanhol.
[Lila, além de lilás, lila significa diversão - sua cara, não? Se bem que agora a sua cara é mais viagem/turismo.]

"É digno de nota observar a proximidade entre os termos ‘violeta’ e ‘violência’. Em italiano, o nome da flor é ‘viola’ – contudo, ‘violenza’ é ‘violência’ e ‘violare’ corresponde ao verbo ‘violar’. Tanto na Inglaterra quanto na França, ‘violência’ se diz ‘violence’, e em ambas temos também ‘violation’, ‘violação’. É historicamente plausível que essa ligação tenha surgido em virtude do púrpura, pois o violeta púrpura era na Antiguidade a cor dos governantes. Assim, essa cor, no tom púrpura, tornou-se a cor do poder. E o nome da violeta transformou-se no nome da violência."

O violeta tem um passado grandioso. Além dos governantes/do poder, também, é uma cor eclesiástica.
A cor do poder temporal é, na interpretação eclesiástica, a cor da eternidade e da justiça. Assim a Igreja resolveu o dilema de, apesar de lutar pelo poder, se apresentar como humilde servidora de Deus.
No acorde da devoção, o branco é a cor divina; o preto é a cor política; o violeta é a cor da teologia.

Na Roma antiga, a púrpura era, por lei, a cor imperial. A tinta que o imperador usava para assinar.
O aposento onde a imperatriz dava à luz seus filhos era todo atapetado de seda púrpura.
Júlio César criou leis limitando o seu uso. Somente ele podia trajar uma túnica inteiramente púrpura.

Em função da produção da tecelagem, do corante, da tintura, do transporte, levava-se bastante tempo para os produtos chegarem ao destino, o que poderia ser uma justificativa para os altos preços.
Consequentemente, seu uso já seria restrito, independente  dos decretos de César.
Todavia, Cleópatra, rainha do Egito, que não tinha de obedecer ao decreto de César, tingiu de púrpura as velas de seu barco.
[Cleo lacrou. Poderoooooosa.]

Suspeita-se que os fenícios descobriram o tingimento púrpura por volta de 1500 a.C.
Para se obter a tintura púrpura, necessitava-se do muco incolor que o caramujo secreta.
Na antiga Roma, havia cidades que faziam a tintura.
Punham-se os caramujos em caldeirões e eles eram deixados ali apodrecendo – o que fazia com que produzissem mais muco, além de exalarem um mau cheiro insuportável. As cidades que produziam a tintura eram famosas por esse mau cheiro.
[e vc aí falando que gostaria de viver na antiguidade pq era chic].

"Apesar de os caramujos e a mão de obra serem baratos, nos tempos da Antiga Roma, um quilo de fio da cor púrpura custava vinte vezes mais do que os mais caros tecidos. Um metro de seda púrpura custava o equivalente a vários milhares de euros."
[capitalismo selvagem]

"Desde a Antiguidade, as violetas eram a flor-símbolo da moderação, contudo com uma conotação muito mundana: nos banquetes era costume usarem-se coroas de violetas na cabeça: o perfume das violetas – era o que se esperava – protegia contra dores de cabeça e ressaca.
O mesmo efeito era prometido pela pedra preciosa ametista, que tem a cor da violeta. Quem usasse uma ametista estaria protegido contra a bebedeira. Daí vem também o nome da pedra – a palavra grega ‘amethysos’ significa 'não bêbado'".

[Acho que é um tributo. De novo, João Bosco, agora com Aldir Blanc... minha pedra é ametista/ minha cor,...]

"Uma possível explicação lógica para a antiga superstição: na alta sociedade dos antigos, era costume usar copos de ametista polida. Nesses copos não havia como se distinguir água de vinho, e quem quisesse permanecer sóbrio prosseguiria no banquete bebendo apenas água e passaria despercebido."

De todas as bandeiras do mundo, apenas uma tem entre suas cores a roxa, que representa o seu papagaio. É da Dominica - uma ilha no mar do Caribe, mais precisamente das pequenas Antilhas.

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Cor da sexualidade pecaminosa. Das feministas. Da homossexualidade. Dos olhos de Elizabeth Taylor.

As pessoas mais a rejeitam do que apreciam. Para quem trabalha com cor, não apreciar alguma pode dificultar o exercício da profissão.
"Johannes Itten, professor da Bauhaus, obrigava seus alunos a usarem com maior frequência aquelas cores de que eles menos gostavam. Naturalmente, a maioria dos alunos descobria então que as cores de que menos gostavam tinham uma beleza que eles não imaginavam.
Descobrir belezas e possibilidades é um grande ganho."

Não por acaso, o violeta foi a primeira cor sintética.
Como sempre, culpa do estagiário.
Em 1856, William Henry Perkins, um ajudante de laboratório de 19 anos, destilou o carbono – fez isso por erro, pois tinha sido encarregado de outra tarefa; diante do pasmo geral, obteve um corante violeta. Perkins patentou-o sob o nome de Perkins mauve, um violeta muito intenso, que ligou seu nome ao da malva.
Num primeiro momento não foi usado, até tecelões franceses descobrirem que a patente não valia na França - não precisariam pagar - usaram à mão cheia. Tanto que de 1890 e 1900 recebeu o nome de “a década da malva”.
Foi uma cor típica do Art Nouveau.

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Ametista

O roxo é identificado, além do mais, com a vaidade. Um dos sete pecados capitais que, nos dias de hoje, é entendido como menos danoso.
[será? Essa exibição toda aí nas redes sociais, de roupas de griffe, é menos danoso mesmo?].
Luxúria entra nessa conta, inclusive.
Oscar Wilde chamou a sexualidade proibida de “as horas violetas no tempo cinzento”.
Dior, quando embalou seu vidro (verde escuro) do perfume Poison numa caixa violeta, não estava querendo dizer do -veneno- mas, sim, do seu cheiro arrebatador.
Alguns o consideraram como a cor dos "pecados bonitos". Ou doces, se considerarmos que entra na lista das cores preferidas para embrulhar os tabletes de chocolates - Cadbury e Milka estão aí de exemplos.
Caixas de jóias forradas com veludo violeta entram, juntamente, na lista.

Lavanda, violeta, alecrim são aromas tidos como típicos das “solteironas”.
"O lilás e o violeta foram frequentemente utilizados no design das embalagens dos cosméticos destinados às mulheres 'maduras'."

Entrou, em uns poucos períodos, na moda. Apesar de remeter muitas vezes à penitência da Semana Santa, para o vestido de luto de algumas viúvas, para os cabelinhos tingidos de senhorinhas fofas, não se pensa em humildade, recato ou penitência – o violeta é percebido como uma cor extravagante.

"O violeta denuncia que a escolha foi conscientemente direcionada para uma cor especial. Ninguém usa o violeta de forma impensada, como se usa o bege, o cinza ou o preto. Quem se veste de violeta quer chamar a atenção, distinguir-se da massa. Quem escolher o violeta sem verdadeiramente apreciá-lo dá a impressão de estar disfarçado, transmite a impressão de que a cor tem mais força do que a pessoa que a usa. Quem se veste de violeta tem que saber por que motivo o faz."

A mais singular e extravagante das cores.

[na sequência dos posts sobre cores, fiquei pensando qual seria o título para este sobre roxo.
Passei por magia, mística, luxuria, pecados bonitos e quando li a frase acima defini - singular.
Aí, me lembrei da época da faculdade. No primeiro ano, numa conversa com colegas da turma, caímos numa discussão sobre cores e preferências. O que combina, o que não combina. Lembro-me claramente os exemplos que usei para rebater a desaprovação para vermelho-preto e roxo. Uma mulher num longo preto com uma rosa vermelha na mão, pra mim era elegante a combinação. Um arranjo, sobre a mesa de jantar com toalha de linho branco, de orquídeas brancas com labelos roxos (as comuns Cattleya purpurata) seria de grande beleza e sofisticação. Melhora até o paladar, não? Lógico que fui gozado por dias por conta do roxo. Acabou virando minha resposta para cor preferida, quando não quero prolongar discussão - roxo.
A mais singular e extravagante das cores. Atirei no que vi, acertei no que não vi.]

Notas:
Livros utilizados para produção do texto:
Frase, Tom - Banks, Adam - O Essencial da Cor no Design
Goethe, J. W. - Doutrina das Cores
Heller , Eva - A Psicologia das Cores
Pastoureau, Michel - Dicionário das Cores do Nosso Tempo
Queiroz, Mônica - A Cor Incorporada ao Ensino de Projeto.

publicado às 15:00

blue azul

por sapoprincipe, em 25.04.18

azul - parte 2

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Deus gastou todo seu estoque de corante azul na imensidão do céu e do mar. Quase não há azul na natureza. As flores já citadas (algumas bastante arroxeadas), as pedras, e no reino dos animais - alguns poucos pássaros e as asas de algumas borboletas. Tá, tudo bem, o azul da pena do pavão vale por muitos azuis. Não é, Vera?

Jodhpur (Índia) e Xexuão (por vezes chamada Barraxe ou Barraxá - Marrocos) tem como um dos atrativos turísticos suas casas e ruas pintadas de azul, também conhecidas como "Cidade Azul".
Olha aí, Mariana, a cor interferindo no turismo.

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Xexuão - Marrocos

No Islã, o azul significa proteção. No norte da África e Grécia também. Taí o "olho grego" que não me deixa mentir (nem invejar. rs).

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Não é só na física (vide post - Eleito (azul parte 1), no cinema também - Azul É a Cor Mais Quente (Léa Seydoux, Adèle Exarchopoulos. Direção: Abdellatif Kechiche - 2013).
A Liberdade é Azul (da trilogia Trois couleurs: Bleu. Direção: Krzysztof Kieslowski - 1993).
Marlene Anjo Azul Dietrich (Der Blaue Engel. Dirção: Josef Von Sternberg - 1930).

  180425_Marlene_Dietrich_1.jpg  180425_Marlene_Dietrich_2.jpg

Azul, também, pode ser apenas memória.
"E aquela num tom de azul quase inexistente, azul que não há/Azul que é pura memória de algum lugar". Caetano Veloso (Trem das cores - Sem contar o cult Araçá Azul de 1972)


"O azul é, em certo sentido, a cor do equívoco, da incerteza."
"L’heure blue é o momento entre o trabalho e a diversão, entre o dia e a noite, entre zonas de existência, entre um tipo de vida e outro, um tempo definido por transitoriedade e fugacidade."

"Ter um sonho todo azul
Azul da cor do mar". Tim Maia
Em 1958, Yves Klein "escreveu para o Secretário-Geral do Ano Internacional de Geofísica das Nações Unidas, propondo a criação do Mar Azul, para se juntar ao Mar Vermelho e ao Mar Negro." Aí não seria só a cor, mas também o nome.
Mas, o louco do Klein também sugeriu que criassem a bomba de cobalto e a pintassem no azul que ele criou. Bola totalmente fora.

Cor da paz. Cor das grandes instituições e organismos internacionais - ONU - UNESCO - OCDE - OMS - Conselho da Europa.
Facebook, Twitter, Tumblr, Instagram, Linked in, também. Não sei se todos, mas mininu mark, com certeza, gostaria de dominar o mundo.

A rainha da Inglaterra, o rei da Suécia, o presidente alemão nas grandes cerimônias usam uma faixa feita de seda chamalote - azul-celeste.
É assim a “faixa azul”, em inglês blue ribbon.

Na França - famosa entre outras coisas pela sua culinária cordon bleu se tornou um divertido sinônimo de excelência na cozinha. Tendo destaque o filé au Cordon Bleu (filé recheado de presunto e queijo).

Ritmo musical.
"Nos primeiros anos do século XX, uma grande variedade de tradições musicais tomava corpo entre a população afro-americana dos Estados Unidos, para formar o estilo que hoje conhecemos como blues: canções de lamento ou de queixa, usualmente relacionadas com condições sociais precárias ou, mais regularmente, amores perdidos. O uso do termo blue entre os negros americanos para descrever um estado de espírito de infelicidade foi registrado pela primeira vez em 1860".
Mas a ligação de cor e música vem de longe. Na antiga Grécia o termo “cromático” para a escala musical ligava as duas coisas: alguns acreditavam que um som musical teria uma cor, da mesma forma que existia nas dimensões de ritmo e tempo.
Vários pensadores e artistas fizeram esta ligação.

Se quiser cantar:
"“Blue Gardens” (Jardins azulados). “Blue Valentines” (Namorados tristes). “Blue Kisses”(Beijos melancólicos). “Blue Velvet” (Veludo azul). “Blue and Sentimental” (Triste e sentimental). “I’m Blue” (Estou triste). “Love is Blue”(O amor é azul ou O amor é triste). “Way to Blue” (Um caminho para a melancolia). “Blue on Blue” (Tristezas sobre tristezas). Blues. Triste. Uma palavra bonita de dizer – e de cantar, com sua explosiva consoante dupla, em inglês, imediatamente suavizada por uma longa vogal. “Born to Be Blue” (Nascido para ser triste). “Midnight Blue” (O azul da meia-noite). “Almost Blue” (Quase azul). “Blue Moon” (Lua azul ou Lua triste). “Blue Angel” (Anjo azul). “Blue Trains” (Trem azul). Notas do blues, é claro: as terças e sétimas menores do blues. Nenhuma cor saturou tanto a música nos últimos cem anos, e ao mesmo tempo permitiu tantos diferentes tons."
A lista saiu do livro sobre o Álbum Kind of Blue do Miles Davis (que tem tradução da Fal). E poderia entrar também Rhapsody in Blue, de George Gershwin.

Se quiser cantar em português:
Azul - Djavan.
Eu não sei
Se vem de Deus
Do céu ficar azul
Ou virá
Dos olhos teus
Essa cor
Que azuleja o dia
...
O amor é azulzinho. (Na voz da Gal vira amor verdadeiro.)

" Azul, a cor do paraíso e do desespero, da distância e da intimidade, não tem resoluções fáceis." (na bela tradução de Fal Azevedo).

Notas:
Livros utilizados para produção do texto:
Frase, Tom - Banks, Adam - O Essencial da Cor no Design
Goethe, J. W. - Doutrina das Cores
Heller , Eva - A Psicologia das Cores
Pastoureau, Michel - Dicionário das Cores do Nosso Tempo
Queiroz, Mônica - A Cor Incorporada ao Ensino de Projeto.
Williams, Richard - Kind of Blue Miles Davis e o Álbum que Reinventou a Música Moderna (tradução de Fal Azevedo)

publicado às 15:49

eleito

por sapoprincipe, em 19.04.18

Não é unanimidade, mas é a preferida da maioria.
Na pesquisa de Eva Heller, 46% dos homens e 44% das mulheres citaram o AZUL como cor predileta. E não existe quase ninguém que não goste: apenas 1% dos homens e 2% das mulheres citaram o azul entre as cores de que menos gostam.
Pastoureau diz: Cor preferida de mais de metade da polução ocidental. Números estáveis desde a ultima guerra. Idênticos resultados no Canadá, nos Estados Unidos e nos diferentes países da Europa Ocidental (exceto em Espanha).
- Olé!!! digo eu. rs

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Azul é a mais fria das cores.
Ops! Na física parece que é um pouco diferente.
" Para quem não sabe, a radiação emitida por um corpo negro depende apenas da temperatura na qual ele se encontra, e não de sua composição química, formato ou textura. Um corpo negro a 1000 Kelvin, como por exemplo lava ou metal fundido, emite uma mistura de luzes onde predomina o vermelho. Um corpo negro a 4000 Kelvin, por sua vez, emite uma luz bem mais amarelada, já quase branca. E um corpo negro a 9000 Kelvin já emite uma luz bem mais azulada. " Gerardo Furtado
Então: Fisica - Cor Fria = Vermelho / Cor Quente: Azul.
Nas artes e na percepção geral: Cor Fria = Azul / Cor Quente = Vermelho.

Cor do frio, da frescura, da água. Símbolo da água fria. Das torneira de água fria antigamente - hoje em dia quase não tem mais o botão com cor, mas tem também a convenção de ficarem sempre à direita. A da esquerda - vermelha e quente.

Azul é cor fria e a mais austera.
Por seu efeito calmante, é uma cor que se harmoniza bem para o uso nos quartos de dormir.
Por sua quietude, é uma boa cor para fundos.
Nos ambientes provoca uma sensação de expansão do lugar. Cria profundidade.
Goethe dizia: “Cômodos pintados de puro azul nos parecem maiores, mas, ao mesmo tempo, vazios e frios”.
" A regra é: uma cor parecerá tanto mais próxima quanto mais quente ela for; e tanto mais distante, quanto mais fria for. Nós associamos as cores às distâncias porque elas realmente mudam com o afastamento."
Os pintores paisagistas sabem disso: todo céu é representado em cima com um azul mais profundo do que embaixo.
Com o aumento da profundidade, todas as cores se dissolvem em azul.
Por isso o azul é a cor das dimensões ilimitadas. O azul é grande.

"A experiência 'mais azul' seria estar num barquinho no meio do mar contemplando o céu. Liberdade e serenidade ou fria solidão? Tudo depende."

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Miosotis

As flores azuis - miosótis, lobélias, madressilvas - simbolizam a fidelidade.

Em inglês o azul está estreitamente associado à fidelidade: “true blue” significa fidelidade inquestionável.
“True blue, em inglês, significa uma pessoa absolutamente honesta e fiel; esse termo derivou da tintura 'true blue', também chamada 'Coventry blue', que ficou muito famosa por produzir uma cor imutável."
É isso, Mônica V.?

"Os costumes ingleses exigem para as noivas: 'Algo velho, algo novo, algo emprestado e algo azul.'” E para os noivos, nada? Fidelidade exigida só as mulheres.

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Safira

Safira - a pedra azul - também simboliza a fidelidade. "A crença popular diz que, na mão de quem é infiel, a safira perde seu brilho."

Na China é uma cor atribuída aos mortos, às almas.

Quando o estômago está a roncar, estamos - Azul de fome.
"Há apenas um setor em que o azul deve se encontrar em menor número: não há quase nada de cor azul entre os alimentos e as bebidas." Lembrei-me de Curaçau Blue. Já tomou?
Li por aí que colocar a comida em um prato azul inibe o apetite. Tô duvidando. Há meses como num prato azul e o meu apetite não se inibiu nem um pouco, esse desavergonhado, e o ponteiro da balança não desceu um grama.

Azul-violeta - laranja, é trio da fantasia.
Violeta simboliza o lado irreal da fantasia – o fantástico.
Laranja, como a terceira cor da fantasia, simboliza o prazer das ideias malucas.
O azul é a cor de todas as ideias cujas realizações se encontram distantes.

O termo “blefe” dos jogos é aparentado com o azul, em termos idiomáticos - vem do francês bleu.

As camas dos hospitais eram pintadas de azul.
Nas embalagens de medicamento, os clamantes e os soníferos são identificados com a cor azul.
“Maravilha azul”, "azulzinho" para o saliente Viagra.

O azul é a principal cor para embalagem de produtos para dormir e tranquilizar. O azul também é a cor preferida para roupa de cama e camisolas. O famoso “trem azul” (train bleu) que faz o trecho Calais-Paris-Nice é composto somente por vagões-leitos.

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by Franz Marc Blue Horses - 1911

Picasso e sua famosa fase azul.
O grupo artístico Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), fundado em 1911 - Franz Marc, Wassily Kandinsky, Alfred Kubin e Gabriele Münter. Gostavam de pintar cavalos, e a cor predileta era o azul.
Henri Matisse pintava até tomates na cor azul.
Yves Klein pintava quadros totalmente azuis. Inclusive chegou a patentear seu azul como “azul Yves-Klein internacional”. Para ele " o azul era a cor das possibilidades ilimitadas".
Para Van Gogh, o azul cobalto era o azul divino.

O preço de uma cor exercia influência decisiva sobre seu significado.
O Azul Ultramarino é a cor artística mais cara de todos os tempos.

O divino azul.
"Os deuses vivem no céu. Azul é a cor que os rodeia; por isso, em muitas religiões o azul é a cor dos deuses."
"O deus egípcio Amon tem, inclusive, a pele azul, para que possa voar sem ser visto. Também Vishnu, deus hindu que aparece em sua forma humana como Krishna, tem a pele azul, como sinal de sua origem celeste. O mesmo acontece com o deus Rama."
Júpiter - senhor dos céus - e azul era a cor de seu reino.
Na religião judaica o céu é o trono de Javé e consiste de uma safira.
Nas igrejas as cúpulas por simbolizarem a abóbada celeste costumavam ser pintadas de azul.
Na Grécia, as igrejas católicas Ortodoxas dedicadas a Nossa Senhora têm o seus tetos pintados de azul.
A Virgem Maria tem seu manto pintado de azul (como dissemos no post sobre a cor rosa)

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Santorini - Grecia

"Quando, em 1570, o papa Pio V estabeleceu as cores litúrgicas para as vestimentas sacerdotais, para cobrir o altar e enfeitar o púlpito durante a missa, ele proibiu que se usasse o azul para essas finalidades, pois o azul havia se tornado uma cor excessivamente comum. A culpa disso pode ser atribuída ao índigo, a cor têxtil mais famosa de todos os tempos."
Tão famosa que foi definida como liberdade. Isso, se vc tiver alguns aninhos e se lembrar de um certo comercial de calça jeans - "Liberdade é uma calça velha azul e desbotada".
Os jeans foi inventado, em 1850, como traje de trabalho para os mineradores de ouro e os cowboys, por Levi-Strauss. Naturalmente, foram tingidos com índigo. Seu nome provém de bleu de Genes (azul de Gênova), chamados assim
pelos marinheiros genoveses que importavam o índigo. Bleu de Genes se americanizou para blue jeans.
No pós-guerra foi adotado pelos jovens e virou "uniforme" da rebeldia. Afinal, como dizia Umberto Eco, o vestuário é uma forma de comunicação, por meio da qual os jovens expressam sua personalidade.
Lógico, que ser usado no cinema por Marlon Brando em O Selvagem (The Wild One - László Benedek - 1953) e James Dean em Juventude Transviada (Rebel Without a Cause - Nicholas Ray - 1955) contribuiu bastante no modismo.

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Marlon Brando - James Dean - em qualquer cor

Homens e mulheres frequentemente se vestem de azul; ele vai bem em todas as ocasiões, em todas as estações.

Se hoje o Orange Is the New Black, já foi o azul.
O azul marinho do século XX substitui em muitas utilizações o preto do século XIX: "fatos dos militares, dos policiais, dos desportistas...etc" (fato? - sim, meu exemplar do Dicionário das cores do nosso tempo é uma edição portuguesa. Obrigado, Paula).
"Os homens do FBI de J. Edgar Hoover vestiam ternos azul-escuros, como muitos executivos do pós-guerra, que frequentemente os combinavam com camisas azul-claras, gravatas de bolinhas azuis, e meias azul-escuras."

"Na América e na Inglaterra, os operários são chamados de blue-collar workers (trabalhadores de colarinho azul) em oposição aos whitecollar workers, que usam camisa branca e gravata, ou seja, os de funções burocráticas." (daí o nome crime do colarinho branco. Mas, quem vai sempre preso são os negros de colarinho azul).

"O azul é a cor predileta como cor de automóveis, tanto para as limusines de luxo como para os veículos compactos." A pesquisa tem bastante tempo, então, defasada. E tem também a diferença de hemisfério. Brancos, cinzas e pratas estão mais na moda hoje, não? Inclusive por serem cores que refletem o calor e, assim, poder ajudar com o consumo do ar condicionado. Sem contar o preço.
Contudo, Fusca azul calcinha é clássico.

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Fusca - 1979

A Terra é azul!, disse Yuri Gagarin na primeiro voo do homem ao espaço.

A Terra é azul, o mar é azul, o céu é azul. E pra você o que é azul?
Temos azul claro, azul celeste, azul mar, azul marinho, azul ultramarino, azulão, azul cobalto, azul turquesa, azul anil, azul da china, azul porcelana, azul cinza, azul elétrico, azul desmaiado, azul de metileno, azul lavanda, azul lápis-lazúli, blue jeans... denominações de azuis era 111, mas acho que já inventamos mais algumas. Acrescente a sua.

 

Notas:
Livros utilizados para produção do texto:
Frase, Tom - Banks, Adam - O Essencial da Cor no Design
Goethe, J. W. - Doutrina das Cores
Heller , Eva - A Psicologia das Cores
Pastoureau, Michel - Dicionário das Cores do Nosso Tempo
Queiroz, Mônica - A Cor Incorporada ao Ensino de Projeto.
Williams, Richard - Kind of Blue Miles Davis e o Álbum que Reinventou a Música Moderna (tradução de Fal Azevedo)

 

publicado às 18:09

por isso não provoque

por sapoprincipe, em 14.03.18

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Cor é mais do que aquilo que você vê nas superfícies.
Se a cor estivesse no foco de Simone de Beauvoir, ela teria dito:
- não se nasce cor, torna-se cor.¹ 
Ops! O "rosa" criou perfil no feissy? Se engajou?
Se não, deveria. Entra sempre na discussão de gênero, pelo menos.
Rosa é uma cor trans?
Cor é uma construção social. Assim sendo, rosa ser cor de menina também o é.
Foi sempre assim?
Não. Rosa cor de menina é relativamente recente.
Início do século passado - por volta de 1920 (quando se tornou possível a fabricação de cores resistentes à fervura). Então, em torno de 100 anos.
"E essas cores de bebê contradizem nossa simbologia cromática: pois o vermelho é masculino – e o rosa é o vermelho em pequena escala, o “vermelho pequenino”, a cor dos garotinhos."
As cores tem leituras diversas e opostas. Como o vermelho que pode ser amor/paixão - luta/força. Preciso estudar mais, mas não vejo uma alteração de significados tão grande como aconteceu com o Rosa.
Em quadros antigos, vemos Jesus, ainda criança, retratado com roupas rosas.
Nas pinturas do século XIII até mesmo do século XIX, Jesus nunca é retratado de azul (o manto de Maria - mãe de Jesus - é azul).
Valeria aqui perguntar para os machões de plantão - onde está seu deus agora?

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Fra Angelico - Madonna and Child - c. 1433

Na pintura barroca (séc XVII) também vemos crianças com vestimentas rosa.
"Porém, essas criaturas vestidas de cor-de-rosa não são meninas, e sim príncipes, caracterizados pela cor rosa – o vermelho pequenino – como futuros governantes."
No período Rococó (1720 a 1775), a corte francesa foi quem deu o tom à moda. Nas pinturas daquele tempo, geralmente os cavalheiros estão vestidos em costumes de seda cor-de-rosa, e as damas são vistas, com maior frequência, em vestidos azuis-claros.

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Madame de Pompadour by François Boucher - 1756
Começa a alterar a moda e usar rosa.

Madame Pompadour (1721-1764, amante do Rei Luís XV, que foi considerada uma das figuras francesas mais emblemáticas do século XVIII) começou usar rosa em seus trajes e teve o seu próprio tom de rosa - “Rosa Pompadour” - que a manufatura de porcelana de Sèvres criou para ela. Um rosa com nítidos traços de azul, um pouco de preto e um pouco de amarelo - uma mistura particularmente difícil de ser preparada.

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Jornal dos Sports 1974 

Finanças e futebol que ERAM tidos como coisas masculinas, também cederam ao rosa.
O Financial Times, jornal financeiro mais famoso, publicado a partir de 1888, era impresso em papel cor-de-rosa.
O Gazetta dello Sport ainda é (Grazie, Alline).
Advinha qual a cor de fundo dos sites deles hoje?
Também o nosso Jornal dos Sports, primeiro periódico especializado em esportes no Brasil -1931, que não existe mais, também era impresso em papel rosa. Não por inspiração do jornal italiano, mas, sim, pelo francês L'Auto.

Quando o rosa se tornou feminino, se tornou uma cor da discriminação. Os homossexuais, na Alemanha nazista, tinham como sinal de reconhecimento, um triângulo cor-de-rosa costurado à roupa.

180314_rosa5.jpg

Triângulo rosa.

Depois virou um dos símbolos de luta do movimento gay.

Seguindo nesse clima de citações, poderia apelar para Gertudes Stain:
- uma rosa é uma rosa é uma rosa.²
Mas, não necessariamente - apenas - rosa.
Quantos tons de rosa você conhece?
Rosa bebê, Rosa claro, Rosa chá, Rosa quartzo, Rosa velho (bois de rose), Rosa antigo, Rosa chiclete, Rosa pérola, Rosa salmão, Rosa Fúcsia (adoro este nome), Malva, Pink, Magenta,... segue a lista.

"3% das mulheres citam o rosa como cor predileta. Homens, não encontrei nenhum que tenha no rosa sua cor predileta." Pesquisa de Eva Heller para o seu livro.
Será que Eva Heller entrevistou, também, o Pastoureau?
"...tons rosa fabricados pela mão do homem me parecem contar-se entre as cores mais desagradáveis à vista."
Mesmo ele sendo um grande estudioso das cores, ele esclarece logo no prefácio: a minha atração pelas cores frias... pelos cinzentos, a minha aversão pela maioria dos cor-de-rosa e dos violetas, a minha fobia pelo ouro... prefiro a sobriedade à policromia, as cores contidas às cores exuberantes." Sendo estudioso da cores - Freud explica? rs
E ainda completa em relação ao rosa - "Talvez seja esse o segredo das cores: são muito poucas as que suportam ser densas".
Rosa é uma cor leve?
Num determinado tom, sim. Doce e delicada, chocante e kitsch, também.
Cor do charme, da simpatia e da gentileza. 
-

"Naturalmente, ao pensarmos no rosa, pensamos também na pele."
Quem pensamos? Tenho amigos que descordariam, com certeza. É só pensar no tons de nude que só depois de reclamações começaram a contemplar todas os tons de pele.
"O rosa é a cor da nudez." O que o torna uma cor erótica.
"O ambiente onde a pele desnuda fica mais bonita é o rosa." Aí, já posso concordar. A depender do tom, o rosa de fundo irá valorizar tanto as peles claras quanto as negras.
"Os que sonham com um quarto de dormir erótico... para isso não existe nenhuma cor que se adeque melhor que o rosa. E que cores combinam bem com esse quarto? O sensível cor-de-rosa, em sua ação, combina muito bem com as outras cores. Perto do branco, o cor-de-rosa sugere perfeita inocência. Mas, perto do violeta e do preto, como no acorde da sedução e do erotismo, o rosa oscila entre a imoralidade e a paixão, entre o bem e o mal." Uia!
-

Voltando à pele rosa (cor muitas vezes usada mesmo para pintar tom de pele - lembrem-se das suas pinturas na creche), não podemos esquecer que os porquinhos são rosas (para alegria da ) - Piggy dos Muppets pros mais velhinhos e Peppa Pig, para as novinhas.
Não podemos pular a Pantera Cor-de-rosa e nem Penélope Charmosa.
-

"Não existe cor que combine melhor com as sobremesas. É a cor do deleite, do regozijo. Doce e suave, esse é o sabor que se espera do rosa."
As crianças preferem bolos com cobertura rosa, já os adultos, preferem com cobertura branca, por associarem o rosa a muito doce.
Bombons Sonho de Valsa devem entrar na lista. Mon Chéri, também.
Doces também podem ser os sonhos... cor-de-rosa.
Ou a vida. La vie en rose. (ligue o som, seja com Piaf, Armstrong, Grace Jones, Cyndi...)
-

Mas, mais que um vermelho fraquinho, o rosa tem seu caráter próprio.
"Por isso não provoque
É cor de rosa choque" [Rita Lee].

Notas:
1 - "não se nasce mulher, torna-se mulher" [O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir / 1908-1986]
2 - "a rose is a rose is a rose" [Gertrude Stein / 1874-1946]

3 - livros utilizados para produção do texto:
Goethe, J. W. - Doutrina das Cores
Heller , Eva - A Psicologia das Cores
Pastoureau, Michel - Dicionário das Cores do Nosso Tempo

 

publicado às 11:55

deu branco

por sapoprincipe, em 16.01.18

Deu branco?
Torça para não ser em um dia de prova.
Ou, quando encontrar aquele velho conhecido que você não vê há tempos. Sempre tem a saída de perguntar - e aí, como está, CARA? (enquanto pensa: Carlos? Marcos? Zé? Mauro? Joaquim?... tentando lembrar o nome). 

Como você definiria a cor branca?
Paz? Você estaria falando pra quem? Porque para os indianos branco é luto.
As cores não têm uma leitura universal. É uma construção cultural. 

Talvez, primeiro coubesse perguntar: branco é cor?
No uso geral, sim. Na simbologia também, pois tem significados não atribuídos a outras cores. Mas na teoria das cores, não. O preto é ausência de cor, o branco é a união de todas elas.
A luz branca, ao passar pelo prisma, se decompõe em várias cores - arco-íris. [não, não é a ditadura gayzista. É só a experiência de Newton. Ou a capa do disco do Pink Floyd, se preferir - rs. O nome correto: refração - o que irá gerar o espectro da luz.]
Ao misturarmos pigmentos de todas as cores, isso já não acontece. Por isso é a cor mais importante para os pintores, pois não pode ser obtida da mistura das outras (como por exemplo o verde, que poderá ser obtido da mistura do amarelo com azul). Ao misturarmos todas as cores, provavelmente, resultará em um cinza "sujo", em função dos corantes e proporções usadas na fabricação das tintas. 

Para os cristãos Branco é o início. Quando Deus criou o mundo, no primeiro dia disse: “Faça-se luz”. E luz é branca. Essa luz aí é branca.
No jogo de xadrez as peças brancas começam, justamente por ser a cor do início (estou começando pelo branco por conta do calendário. Não sei se pensaram nisso quando escolheram Janeiro - início do ano - para a luta da Saúde Mental e atribuíram a cor branca, mas... Jung, por favor, dê uma chegadinha aqui, preciso lhe perguntar uma coisa.).

180116_branco.png

É a cor da inocência, do bem, dos espíritos, dos anjos, dos fantasmas.
Da pureza feminina.
Branco da limpeza e da higiene.
"Branco é o leite, primeiro alimento que o homem recebe. Na história da criação do hinduísmo o mundo consistia em um mar de leite."

Independente de quanto há de lenda na quantidade de denominações de neve e branco que os esquimós têm, temos muitos nomes dados coloquialmente para o branco. Sem contar a nova moda das marcas de tintas imobiliárias e dos esmaltes. Mas podemos listar: branco neve, banco gelo, branco cera, branco giz, branco antigo, branco chumbo, branco diamante, branco amarelado... chega-se a dezenas.
O código hexadecimal para a cor branca pura é #FFFFFF.
CMYK - C:0 M:0 Y:0 K:0 - RGB R:225 G:225 B:225

Na pesquisa da estudiosa Eva Heller "apenas 2% dos entrevistados citaram o branco como cor predileta. E quase a mesma proporção – 2% dos homens, 1% das mulheres – citaram o branco como cor menos apreciada."

Branco
Da Casa (aquela onde mora um maluco hoje).
Das vestes do Papa.
Dos Deuses - Zeus, touro branco (oi Cynthia. Touro também é infiel?); Cristo, cordeiro branco; Espírito Santo, pomba branca.
Do Frio, da neve, do Norte. (Rei do Norte?)
Reis e rainhas na coroação trajam branco.
"Beth" (a amiga de Mari e Mônica V) profere sempre seu discurso anual de abertura do parlamento vestida de branco.
Com fraque sempre se usa gravata branca.
O homem do sapato branco. Óóóóó!

"Branco é o nome de cor mais comum internacionalmente, mas apenas e exclusivamente como nome feminino: “Branca” – em italiano “Bianca” (oi, Mi Merloti!), em francês “Blanche” e “Blanchette”, do nome celta “Genevieve” veio “Jennifer”, do nome romano “Candida” veio “Candy”, e também o inglês “Fenella” e o irlandês “Finola”, traduzidos significam Branca." Em "brasileiro" Branca Barreto Pessoa de Moraes / Suzana Vieira em Duas Caras (oi, odetas).

A embalagem do Chanel nº5.
A T-shirt branca pra combinar com o jeans (Brando/James Dean).
A preferência para roupas íntimas. Dos lençóis (quantos fios?).
A roupa dos enfermeiros, médicos, açougueiros e de quem lida com comida.
Dos colarinhos (aqueles que não pagam pelos crimes).
A roupa de batismo. Da primeira comunhão. Do Vestido de noiva - ops!. ("moda que não é anterior ao fim do século XVIII" e que se impôs somente no século XX. O vestido branco era uma maneira de proclamar a pureza, que estava se casando virgem. Mas, no mundo rural europeu, as noivas se vestiam de vermelho. Cor que o tingimento, feito a partir das raízes da ruiva-dos-tintureiros, ficava mais vivo e não esmaecido como as outras cores. "No dia do casamento, a jovem noiva devia não ostentar a sua virgindade - isso era suposto -, mas vestir o seu mais belo vestido." - Acho digno.). 

Cor dos eletrodomésticos.
Do revestimento das cozinhas e banheiros - ainda hoje muito usado, embora um pouco menos.
Cor da simplicidade. Da descrição. Da modéstia.
O branco aproxima e expande. Um círculo branco sobre fundo preto parecerá 1/5 maior que um círculo, do mesmo tamanho, preto sobre fundo branco.
Para ampliar os espaços - branco - oh, céus! Tem outras hipóteses. E pra você que mora neste pais tropical com luz, luz, luz dá para pintar as paredes de outras cores. Tá, seu apartamento é de fundos, tem janelas pequenas e bate pouca luz, ok. O branco reflete mais luz. Daí eu especificar nos meus projetos tetos brancos (mas não sempre, não é, Wanda?).
O minimalismo, o modernismo, os puros - design branco (oh, céus! de novo).

Branco - cor neutra. Mentira repetida tantas vezes vira verdade - engana incautos. Peças com cores colocadas sobre fundo branco sempre parecerão mais escuras. (quer um fundo neutro? Use cinza médio).
Cor da sabedoria. Da velhice.
Branca é a tez da manhã. (Djavan)

NB - livros utilizados para produção do texto:
Goethe, J. W. - Doutrina das Cores
Heller , Eva - A Psicologia das Cores
Pastoureau, Michel - Dicionário das Cores do Nosso Tempo

publicado às 13:11

assistindo

por sapoprincipe, em 07.03.17

Vi numa postagem de minha professora de arte da Pós e me interessei. Depois a Fal, numa msg, disse que havia visto e tinha achado a minha cara (:))))) minha cara pelo elogio). Corri pra assistir – Abstract [Netflix].

170307_Abstract.png

São 8 episódios, que ao final você fica ... só isso?

O primeiro episódio é "Christoph Niemann - Ilustrador".
Já até havia visto vários trabalhos dele, só não estava ligando o trabalho à pessoa. Como aconteceu com quase todos (eu e meu problema com os nomes).
Além do trabalho lindo, não é possível não se identificar, mesmo que algumas falas caiam no lugar comum ou algo bem conhecido.
Por exemplo, quando ele cita Chuck Close:
- Inspirações é para amadores. Nós, profissionais, vamos trabalhar.
- 99% de transpiração e ...
Lembrei-me de um livro do Dualibi (agência dpz) – que não conseguirei conferir pois o livro já não está na estante por conta da última mudança – em que ele dizia, mais ou menos, que o bom profissional não era aquele que tinha uma ideia genial e sim aquele que tem ideias o tempo todo. E o "trabalhar" produz isso, inclusive novas ideias e algumas vezes ideias geniais.

Tinker Hatfield, que entre outras coisas é designer de calçados [no caso tênis], no segundo episódio questiona a relação arte-design.
"Existe arte envolvida no design. Mas não acho que seja arte. Na minha percepção, arte é a maior autoexpressão de um indivíduo criativo. Para mim, como designer, o maior objetivo não é a autoexpressão. Meu objetivo é solucionar um problema para outra pessoa e espero que fique ótimo para ela, e bonito."
Não posso concordar mais. Por mais que tenha arte no design de interiores e a minha mão nos meus projetos, quero sempre que a casa tenha a cara do cliente. Que ele possa sentir que a casa é dele, como se ele tivesse feito tudo aquilo.

A cenógrafa Es Devlin, no 3º episódio, ganhou "uau" de alguns amigos que assistiram, inclusive a Fal, mas... terei que assistir de novo. rs

Bjarke Ingels é um arquiteto novinho com muitos prêmios. Merecidos (apesar de não conhecer detalhes dos projetos). Inclusive por algumas ousadias. O endereço do site é "big" - o que desmostra certa humildade. rs
"Em arquitetura há um problema sem solução. Ninguém confiará em você até que o prédio esteja construído." E não só para os grandes e premiados. Tem hora que gostaria de ter dinheiro (muito, claro) para bancar a "confiança". Executar a obra, porque assim não se teria dúvidas do que está desenhado no projeto e o cliente pagar se gostar da obra (mas, com muito dinheiro, eu continuaria a ter clientes? rs).

O designer de automóveis - Ralph Gilles - me fez lembrar de um colega de escola, que também era fascinado por automóveis e vivia desenhando carros. Será que Jaime fez design? Como já não me lembro do sobrenome, nem posso me aventurar no google.

Paula Scher vem nos mostrar que a "grobo" é o próprio país do Chacrinha, onde tudo se...
O trabalho que ela desenvolveu para o teatro "Público" é maravilhoso. Qualquer semelhança com a marca do canal Futura é mera... Tentei achar o autor da marca e a data, mas titio google não me ajudou. Embora esteja aí a banda "Kiss" para demonstrar que às vezes é o caminho inverso.

Platon - fotógrafo - e seu olhar para os olhos. Ele vai conversando até relaxar o fotografado e conseguir um click que revele a alma.

Oitavo episódio e chegamos ao design de interiores - Ilse Crawford.
"O importante é o bem-estar. As pessoas entram em um espaço e não sabem por que se sentem daquele jeito, mas na verdade foi tudo planejado."
É bom ouvir um grande confirmando a sua teoria. Canso de dizer isso. Algumas vezes as pessoas miram num detalhe - cor das paredes, o conforto do sofá, o quadro... - achando que é isso que resulta, quando é só o conjunto que produz o efeito "mágico". Por isso, não é suficiente copiar detalhes de um espaço para outro.
"Algumas pessoas acham que design de interiores é sobre aparência.
'Deve ser divertido ficar comprando móveis', uma pessoa me disse uma vez. Mas não penso assim. Passamos 87% de nossa vida dentro de edifícios. O design deles tem um impacto em como nos sentimos e comportamos. Design não é apenas o aspecto visual, é um processo mental, uma habilidade. Acima de tudo é uma ferramenta para acentuar nossa humanidade.
É uma moldura para vida."

Só isso?
Como assim acabou? Eu assistiria mais vários episódios. Queria mais várias temporadas.
Aguardo.
Obrigado, Fal.

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publicado às 13:10

arq-tipografia

por sapoprincipe, em 26.08.15

arqtipo_109.jpg

by Cláudio Luiz

 

rua Pereira da Silva, Laranjeiras - Rio de Janeiro / RJ

 

a fonte já tem contornos irregulares e ainda foi escolhido um verde muito escuro para um fundo preto. Não fosse o photosop, só seria possível ler o classic.

publicado às 17:21

arq-tipografia

por sapoprincipe, em 04.08.15

arqtipo_108.jpg

 

Rua Conde de Bonfim - Tijuca - Rio de Janeiro 

 

by Stella Cavalcanti.

sócia da casa

publicado às 19:36

arq-tipografia

por sapoprincipe, em 24.06.15

150624_arqtipo_107.jpg

 

by Cláudio Luiz

 

Bambina - Botafogo - Rio de Janeiro / RJ

publicado às 13:31

assinatura

por sapoprincipe, em 17.03.15

mesadejantar

Tai uma ideia que gosto. Adoraria ter assinado este projeto.

Não sei nem quem é o designer da mesa nem o autor da foto se alguém souber,pf, me envie. Agradeço.

 

NB - com o patrocínio de Beth S. - o designer é Robert True Ogden.

publicado às 13:31


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